segunda-feira, 28 de julho de 2014

SUBSTITUTOS

A perfeição é uma ilusão mental reforçada pela mídia. Infelizmente tudo gira em torno desta ideia. Tudo tem que ser artificial. As emoções, aquilo que é verdadeiramente humano, a bondade, a pureza, a compaixão foram quase que exterminados da sociedade...



A narrativa se passa num futuro não muito distante de nossos olhos onde, com o desenvolvimento da robótica, os seres humanos são substituídos por seus “substitutos”, robôs aparentemente perfeitos que são comandados por seus “donos” originais que ficam deitados numa cama, plugados num sistema que possibilita a interação entre a mente humana e as ações de seus robôs substitutos. A raça humana ficou confinada em um pequeno espaço de terra onde existe uma pessoa, O Profeta, que luta pela humanidade e influencia os reais humanos a lutarem contra os robôs, pois o mundo deveria pertencer aos humanos.

A imagem que eu quero passar do filme é a de que você um dia ficaria deitado no conforto de seu lar, controlando seu substituto “perfeito” vivendo no mundo dito real, como uma criança manipulando seus brinquedos na sala de estar. O mundo passa a ser infestado de “pessoas” sem defeitos, robôs que não falham, tem a pele perfeita, realizam suas tarefas com extrema perfeição, enfim, uma utopia fictícia criada por uma pessoa que perdeu o filho, não aceitou sua própria velhice, sua doença, sua dor, seus sentimentos tão comuns a nós “humanos” e desenvolveu um software que possibilitasse um mundo onde tudo seria perfeito, sem guerras, sem doença, sem pessoas com espinhas ou problemas cardíacos, sem sentimentos.
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O que me intriga é que, esta visão é, de alguma maneira, buscada por pessoas no momento. Um mundo onde tudo é “perfeito”(eu ainda tenho uma imensa dificuldade com esta palavra). Mas a realidade é que seres humanos nascem, morrem, sentem dor, quebram a perna, vão mal na escola, tem imperfeições que são inerentes ao corpo humano. Buda diz que o sofrimento é inerente ao corpo humano e só compreendendo a natureza real deste sofrimento é que podemos tentar resolvê-lo através da prática espiritual, da mente em sintonia com o todo.
A mensagem principal que ficou para mim, e que eu gostaria de frisar é a de que humanos nunca serão perfeitos, muito menos softwares ou robôs que tentam chegar a perfeição, porque a perfeição não existe, ela é fruto da imaginação, uma ilusão do desejo que provem do medo de sofrer. Não há nada perfeito e exato no universo, a não ser a aleatoriedade, a temporalidade da existência de tudo que existe. A perfeição é uma ilusão mental reforçada pela mídia. Infelizmente tudo gira em torno desta ideia. Tudo tem que ser artificial. As emoções, aquilo que é verdadeiramente humano, a bondade, a pureza, a compaixão foram quase que exterminados da sociedade, como os humanos ditos “imperfeitos” pela fabricante dos substitutos no filme, dando lugar ao capitalismo selvagem, o aparecer, o ter, o ser igual, o pertencer e comprometer as próprias convicções que sejam diferentes da “normalidade”, da nova ordem, a desumanidade.
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Lógico que nada está perdido. Mas eu vejo que a força para fazer o bem tem que ser muito maior do que para fazer o mal, pois o mal é quase que instantâneo. Eu vejo, eu sinto muito mais a presença das energias negativas do que energias positivas em qualquer lugar que eu vou, até mesmo onde deveria existir uma aura de pureza protegendo o lugar. Raramente as pessoas sorriem, estão sempre de cabeça baixa. Estar bem consigo mesmo parece ser andrógino.
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Contudo, eu acredito na humanidade. Consigo ver pessoas tentando mudar, tentando lidar com seus problemas, suas neuras de forma funcional e construtiva. Há exemplos de “seres humanos” que não foram robotizados pelo sistema de maquiagem que impõe o uso de máscaras na sociedade, atrás do balcão do supermercado ou vendendo um tênis para você numa loja de calçados. A pergunta é: Até quando vamos resistir? E indo mais além: Não deveria ser o contrário? O mal, o “perfeito”, os substitutos sem sentimentos não deveriam ser aqueles a resistir a bondade inata do ser humano, corrompida pela existência num mundo onde vale tudo para as pessoas aparecerem?
A evolução depende da (re)volução.
Título original: Surrogates (2009) Director: Jonathan Mostow







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