A perfeição é uma ilusão mental reforçada pela mídia. Infelizmente
tudo gira em torno desta ideia. Tudo tem que ser artificial. As emoções,
aquilo que é verdadeiramente humano, a bondade, a pureza, a compaixão
foram quase que exterminados da sociedade...
A narrativa se passa num futuro não muito distante de nossos olhos
onde, com o desenvolvimento da robótica, os seres humanos são
substituídos por seus “substitutos”, robôs aparentemente perfeitos que
são comandados por seus “donos” originais que ficam deitados numa cama,
plugados num sistema que possibilita a interação entre a mente humana e
as ações de seus robôs substitutos. A raça humana ficou confinada em um
pequeno espaço de terra onde existe uma pessoa, O Profeta, que luta pela
humanidade e influencia os reais humanos a lutarem contra os robôs,
pois o mundo deveria pertencer aos humanos.
A imagem que eu quero passar do filme é a de que você um dia ficaria
deitado no conforto de seu lar, controlando seu substituto “perfeito”
vivendo no mundo dito real, como uma criança manipulando seus brinquedos
na sala de estar. O mundo passa a ser infestado de “pessoas” sem
defeitos, robôs que não falham, tem a pele perfeita, realizam suas
tarefas com extrema perfeição, enfim, uma utopia fictícia criada por uma
pessoa que perdeu o filho, não aceitou sua própria velhice, sua doença,
sua dor, seus sentimentos tão comuns a nós “humanos” e desenvolveu um
software que possibilitasse um mundo onde tudo seria perfeito, sem
guerras, sem doença, sem pessoas com espinhas ou problemas cardíacos,
sem sentimentos.
O que me intriga é que, esta visão é, de alguma maneira, buscada por
pessoas no momento. Um mundo onde tudo é “perfeito”(eu ainda tenho uma
imensa dificuldade com esta palavra). Mas a realidade é que seres
humanos nascem, morrem, sentem dor, quebram a perna, vão mal na escola,
tem imperfeições que são inerentes ao corpo humano. Buda diz que o
sofrimento é inerente ao corpo humano e só compreendendo a natureza real
deste sofrimento é que podemos tentar resolvê-lo através da prática
espiritual, da mente em sintonia com o todo.
A mensagem principal que ficou para mim, e que eu gostaria de frisar é
a de que humanos nunca serão perfeitos, muito menos softwares ou robôs
que tentam chegar a perfeição, porque a perfeição não existe, ela é
fruto da imaginação, uma ilusão do desejo que provem do medo de sofrer.
Não há nada perfeito e exato no universo, a não ser a aleatoriedade, a
temporalidade da existência de tudo que existe. A perfeição é uma ilusão
mental reforçada pela mídia. Infelizmente tudo gira em torno desta
ideia. Tudo tem que ser artificial. As emoções, aquilo que é
verdadeiramente humano, a bondade, a pureza, a compaixão foram quase que
exterminados da sociedade, como os humanos ditos “imperfeitos” pela
fabricante dos substitutos no filme, dando lugar ao capitalismo
selvagem, o aparecer, o ter, o ser igual, o pertencer e comprometer as
próprias convicções que sejam diferentes da “normalidade”, da nova
ordem, a desumanidade.
Lógico que nada está perdido. Mas eu vejo que a força para fazer o
bem tem que ser muito maior do que para fazer o mal, pois o mal é quase
que instantâneo. Eu vejo, eu sinto muito mais a presença das energias
negativas do que energias positivas em qualquer lugar que eu vou, até
mesmo onde deveria existir uma aura de pureza protegendo o lugar.
Raramente as pessoas sorriem, estão sempre de cabeça baixa. Estar bem
consigo mesmo parece ser andrógino.
Contudo, eu acredito na humanidade. Consigo ver pessoas tentando
mudar, tentando lidar com seus problemas, suas neuras de forma funcional
e construtiva. Há exemplos de “seres humanos” que não foram robotizados
pelo sistema de maquiagem que impõe o uso de máscaras na sociedade,
atrás do balcão do supermercado ou vendendo um tênis para você numa loja
de calçados. A pergunta é: Até quando vamos resistir? E indo mais além:
Não deveria ser o contrário? O mal, o “perfeito”, os substitutos sem
sentimentos não deveriam ser aqueles a resistir a bondade inata do ser
humano, corrompida pela existência num mundo onde vale tudo para as
pessoas aparecerem?
A evolução depende da (re)volução.
Título original: Surrogates (2009)
Director: Jonathan Mostow
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